Eu penso econofísica como uma tentativa de abordar perguntas em economia usando contribuições das áreas de sistemas complexos (principalmente). Não vejo grandes diferenças metodológicas entre economia e econofísica. De fato, o termo econofísica nem me agrada, pois se um pesquisador me diz que trabalha com econofísica, eu não sei exatamente o que ela está fazendo (pelo menos ainda).
Eu acredito que trabalhos que tentam incluir contribuições de sistemas complexos em economia que respondem perguntas originais tem sido publicados em revistas importantes da área - logo não existe tanta diferença entre as áreas. Obviamente, existe um efeito clube nesse processo gerando uma resistência a idéias novas e isso ocorre em todas as áreas acadêmicas.
Talvez o primeiro trabalho que tenha sido publicado e que pode ser considerado de econofísica seja: Mandelbrott, B. The variation of certain speculative prices. Journal of Business 36, p. 394-419, 1963, que foi publicado numa revista típica de finanças.
Outros trabalhos conhecidos (mas deve existir uma lista grande) que se enquadram num estilo que poderia ser considerado econofísica e foram publicados em revistas importantes de economia são:
KIRMAN, A. P. Whom or what does the representative individual represent? The Journal
of Economic Perspectives, v. 6, n. 2, p. 117–136, 1992
J. A. Scheinkman and M. Woodford. Self-Organized Criticality and Economic Fluctuations The American Economic Review, v. 84, Papers and Proceedings of the Hundred and Sixth Annual Meeting of the American Economic Association pp. 417-421, 1994.
Arthur, B. Inductive Reasoning and Bounded Rationality American Economic Review (Papers and Proceedings) 84: 406–411, 1994.
W. A. Brock and S. N. Durlauf. Discrete Choice with Social Interactions. The Review of Economic Studies, V. 68, , pp. 235-260, 2001.
T. Lux e D. Sornette. On Rational Bubbles and Fat Tails. Journal of Money, Credit, and Banking, v. 34, 2002.
M. Jackson and B. Rogers The Economics of Small Worlds. The Journal of the European Economic Association, v. 3, p. 617-627, 2005.
T. D. Matteo, T. Aste e M. M. Dacorogna Long-term memories of developed and emerging markets: Using the scaling analysis to characterize their stage of development
Journal of Banking & Finance v. 29, 827-851, 2005.
Pouget, S. Adaptive traders and the design of financial markets. Journal of Finance, v. 62, p. 2835–2863, 2007.
Colander, D. et al. Beyond DSGE models: toward an empirically based macroeconomics.
The American Economic Review, JSTOR, v. 98, n. 2, p. 236–240, 2008.
M. Jackson Networks in the Understanding of Economic Behaviors. The Journal of Economic Perspectives, v. 28, p. 3-22, 2014.
Uma possível forma de ver Econofísica seria fazer o paralelo com econometria. Assim como econometria, econofísica pode ser aplicada (em teoria) a qualquer área da economia. Nesse caso, seria uma apanhado dessas técnicas de sistemas complexos que poderiam ser usadas para responder perguntas em economia. Mas note que econofísica (pelo menos) ainda é muito mais ampla que econometria e inclui técnicas relacionadas a redes complexas (que já existiam antes do advento das redes complexas em física, por exemplo, nas ciências sociais incluindo até a idéia do "preferential attachment" que foi revisitada várias vezes), modelos baseados em agentes (que também já existiam antes propriamente da econofísica na área da computação) e trabalhos empíricos que são dirigidos por dados ao invés de modelos (que também já existiam em áreas de aprendizagem de máquinas e mineração de dados) como é na economia. Assim como na econofísica, grande parte da econometria também já existia antes na estatística (veja por exemplo essa pergunta).
Obviamente, só o futuro dirá como evoluirá essa área. Algumas opções que considero são:
1) Ter uma posição equivalente a de econometria.
2) Ser engolida pela economia, como parcialmente está ocorrendo: perguntas interessantes que são respondidas usando métodos de sistemas complexos, são publicadas em canais desejados de economia.